“A mãe de todas as corrupções é a corrupção da opinião pública pelos meios de comunicação”, analisa Venício Lima, especialista em política de comunicações no Brasil.
Com o auge da crise e das disputas em torno do futuro governo Dilma, fervilham pelo País seminários e fóruns em busca de compreender os acontecimentos recentes que alvoroçam a política brasileira.
Em um desses eventos, ontem, o professor Venício Lima afirmou que “a mãe de todas as corrupções é a corrupção da opinião pública praticada pelos meios de comunicação”. Estudioso da estrutura midiática no Brasil e especialista em comunicação e política, Lima explicou que a natureza da corrupção pela imprensa se dá quando o leitor, ouvinte, telespectador e internauta é privado do contraditório e de uma visão abrangente da realidade. “Omissões de fatos, ênfases em outros, enquadramentos, seletividade, acabam por privar o cidadão de informações corretas”.
A crítica de Lima – na mesa-redonda “Política, Economia, Direito e Mídia: os fundamentos da crise”, organizado pelo “Fórum 21” e realizado no Teatro dos Bancários – encontrou eco no ator brasiliense Murilo Grossi.
Na sua fala, o ator contou a cena de hostilidade e quase violência física que enfrentou, ao lado dos dois filhos, no Ki-filé, tradicional restaurante que fica na quadra 405 Norte, no Plano Piloto. Ao conversar com jovens que distribuíam panfleto convocando para o ato contra o golpe e em defesa da democracia, alguns frequentadores do restaurante partiram para provocações e xingamentos. Só não houve confusão porque a turma do deixa disso foram os garçons do restaurante, estabelecimento que o ator frequenta há mais de 20 anos. Para Grossi, que confessou ter tido uma crise de choro após o episódio, o clima de intolerância e o incitamento ao ódio tem sido estimulado pela mídia.
O jornalista Bernardo Mello Franco (Folha de SP, 21/03/2016) também captou o clima de raiva que se expande pelo Brasil afora. Na sua análise, o colunsta da Folha comenta o “chilique” do ato Cláudio Botelho em um teatro de Belo Horizonte quando, ao improvisar, num musical baseado em obras de Chico Buarque, chamou a presidente Dilma de ladra e foi interrompido pela plateia. Sob vaias, protestos e gritos de “não vai ter golpe”, a peça foi suspensa.
Existe “um clima de raiva e intolerância no ar –que hoje se volta contra o PT, mas poderá atingir outras forças políticas. Basta ver o que ocorreu no dia 13 de março, quando os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin foram hostilizados e enxotados da avenida Paulista”. E conclui: “o chilique de Botelho expõe uma face da nova direita verde-amarela que muita gente (e boa parte da mídia) prefere fingir que não vê”.
Fonte: Armando Medeiros – Conexão Pública.