Jorge Duarte
Vivemos na melhor época da história para atuar em comunicação. No entanto, a expressão “comunicação de massa” perdeu força e todo o processo ganhou configurações ainda novas e surpreendentes. Num relance, saímos de um período em que poucos tinham capacidade de transmitir a muitos para outro em que todos podem interagir com todos e assumem o protagonismo em múltiplas plataformas e formatos. O debate público é permanente e facilitado, ainda que áspero. Mesmo não universais, as facilidades de emissão, diálogo e acesso são inéditas. A tecnologia mudou, e a sociedade também. As pessoas ganharam o controle da comunicação. O cidadão tem o poder de comunicar e está aprendendo a lidar com as múltiplas ágoras.
Nas organizações, a comunicação também evoluiu. Divulgar era mantra e sinônimo de comunicar. Hoje, fala-se em gestão dos pontos de contato, segmentação de públicos, transparência, reputação, diálogo, sustentabilidade, compliance, responsabilidade social, governança. A superabundância informativa ampliou a necessidade de editores e curadores de conteúdo e a atenção tornou-se um tipo de moeda.
Apesar dos avanços, não poucos administradores dizem que comunicação interna é o maior problema da gestão. Comunicação no serviço público muitas vezes ainda tem como objetivo dar visibilidade e manter o poder da coalização dominante nem sempre com prioridade nos interesses e necessidades do cidadão”. Ainda que 84 milhões de brasileiros acessem a internet (comScore, 2015), grande parte da sociedade permanece desinformada: a média de livros lidos por brasileiro/ano é de 1,8 (Min. Cultura/IBGE, 2014); 64% não conseguem ler ou interpretar conceitos básicos em ciência (Ibope, 2014) e 63% não sabem quem é o vice-presidente da República (Datafolha, 2015). E se as pessoas não estão informadas ou não participam, não há desenvolvimento equilibrado e não há cidadania plena.
Diante destes contrates, como ficamos, nós, profissionais, numa era de desintermediação, em que todos são comunicadores e podem ter sua própria mídia, e, de certo modo, são mídia? Num tempo em que softwares começam a produzir textos, algoritmos fazem a seleção do conteúdo que leremos, e em que nenhuma profissão específica detém repertório suficiente para lidar com as possibilidades dessa nova comunicação. As universidades estão preparando os jovens para um futuro incerto, complexo e recheado de alternativas, em que somos mais gestores de reputação, mediadores, criadores de espaços de comunicação e editores do que disseminadores de informação? Como adaptar o que aprendemos em comunicação de massa para uso em uma sociedade de informação fragmentada? As organizações sabem como manter um relacionamento adequado com seus múltiplos públicos e utilizar a comunicação para ajudar a alcançar seus objetivos? A comunicação é estratégica e tem estratégia?
Nesse período (possivelmente definitivo) de complexidade e incertezas, é fundamental assumir o protagonismo, ir além das fronteiras de nosso conhecimento original e, ao mesmo tempo, recordar as primeiras lições. Devemos nos lembrar de que Comunicar não é apenas informar, mas tornar comum. Implica partilha, diálogo, troca, acesso, participação ativa dos sujeitos. Trata-se de um processo abrangente e multidisciplinar que busca a autonomia das pessoas, solidariedade e sociabilidade. Envolve ética, respeito, cooperação − mais ouvir do que falar.
Estamos em um período de transformações de impacto inédito no modo como a sociedade se comunica. Da Era da Disseminação para a Era do Compartilhamento − a Comunicação humana, em sua amplitude e grandeza. Bem-vinda, com toda sua complexidade, contradições e desafios.