Este trabalho procura analisar o impacto da cultura organizacional de um órgão público no modo de perceber, sentir e agir dos seus servidores, em relação a “fazerem a diferença” por meio de soluções de impacto coletivo. O lócus da pesquisa é a Câmara dos Deputados, órgão do Poder Legislativo, cujas regras e recursos disponíveis (estrutura), em distintas dimensões temporais, dão ao engajamento (agência) dos atores um contorno diferenciado. A comparação de quatro setores evidencia a complexidade da Casa, em subculturas e diferentes problemas a resolver. Para a Consultoria Legislativa, viabilizar a política tecnicamente; para a Secretaria de Comunicação Social, balancear o lado do emissor (organização e deputados) com o do receptor (públicos); para a Secretaria de Controle Interno, controlar e estimular os gestores, ao mesmo tempo em que é controlada; para a Diretoria Geral, gerir um orçamento bilionário com recursos cada vez mais escassos. O marco conceitual da análise tem o suporte das teorias do pragmatismo, do interacionismo simbólico, da sociologia relacional e da psicologia social. Por ele e pelos artefatos culturais do mundo social pesquisado (entrevistas, documentos e observação participante, com foco nas narrativas), conclui-se que, a despeito (ou por causa) das dissonâncias estruturais e individuais, das quebras de expectativa e rupturas, e de forma independente das relações principal-agente, alguns atores se engajam em torno de dois aspectos culturais construídos na interação dentro da organização. Primeiro, a identidade coletiva do “servidor da Câmara”. Segundo, uma ideia central, propagada pelos seus líderes desde 1960: a importância do convívio dos diferentes e da inovação, ou seja, a própria democracia em permanente construção como a “coisa certa” a fazer. São “agentes de princípios”, bem distintos dos burocratas inertes ou egocêntricos da teoria principal-agente, dos críticos do serviço público e da “não-identidade” da qual buscam se desvencilhar.