“Crise climática agora é uma agenda permanente”, afirma Jorge Duarte no Seminário sobre Comunicação Pública em tempo de calamidade

“A crise climática agora é rotina, vemos isso todo dia. É uma agenda permanente e a questão principal é como lidar com isso”. Jorge Duarte foi expositor no painel “Comunicação Pública – O Papel do Comunicador Público” do Seminário Comunicação Pública em Tempos de Calamidade, evento realizado na última segunda-feira (14/9), no auditório Teotônio Vilela, da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A atividade discutiu o papel da comunicação pública no combate à crise climática, que se agrava a cada ano.

Segundo o presidente da ABCPública, as áreas de comunicação devem assumir um papel central e protagonista na gestão de riscos que envolvem cada instituição, mas também a sociedade. “Somos muito treinados para apagar incêndios, mas pouco preparados para evitar que eles aconteçam. Isso é parte do processo que precisamos adotar daqui para frente. Temos que ser estratégicos, proativos e protagonistas”, afirmou Duarte, reforçando que os comunicadores públicos precisam desempenhar um papel ativo na missão das instituições em que atuam: “Devemos participar da elaboração das políticas públicas desde o início, não apenas acompanhando as discussões. Não estamos aqui apenas para divulgar, mas para entender como as decisões impactarão a sociedade, oferecendo o que é essencial para uma política pública eficaz: a comunicação.” 

Jorge Duarte declarou que a comunicação faz parte de todos os processos, mas ressaltou que a comunicação pública deve ser compreendida como serviço público, com foco no cidadão. “A comunicação vai ser eficiente para orientar o cidadão, para explicar a ciência, dar transparência e garantir acesso a uma informação adaptada e com qualidade”. O presidente da ABCPública criticou a fragmentação da comunicação dentro das instituições públicas, apontando a necessidade de atuação com visão única e integrativa e não segmentadas por áreas de especialização. 

Durante sua exposição, o presidente da ABCPública defendeu que a comunicação pública vá além de informar sobre as ações governamentais. Segundo ele, é fundamental que se explique ao cidadão as funções das instituições de Estado e como esses órgãos podem, por exemplo, contribuir para a mitigação de danos causados pelas mudanças climáticas. Duarte também mencionou pesquisa realizada no ano anterior por seus alunos da PUC Minas com chefes de comunicação de assembleias legislativas, que revelou um dos maiores problemas enfrentados: a falta de conexão das instituições com a sociedade. Ele argumentou que uma parte significativa da população “não compreende corretamente como as instituições funcionam, como acessá-las e como influenciá-las”. “A nossa responsabilidade é enorme, pois o nosso público é muito desafiador”, destacou Duarte.

Ao longo do evento, ficou claro que a comunicação pública eficaz é um meio de reduzir o distanciamento entre governo e sociedade, garantindo que os cidadãos compreendam e participem das ações governamentais, principalmente em temas urgentes como desastres climáticos. Duarte destaca a necessidade de conectar as mudanças climáticas à vida cotidiana do cidadão, promovendo campanhas educativas e iniciativas de conscientização que ofereçam às pessoas as ferramentas necessárias para agir de forma informada e eficiente.

Para Sérgio Lerrer, mediador do evento, fica perceptível a possibilidade de um novo momento na comunicação pública, na qual além de estar disponível para divulgar atividades da gestão e rotina daquele poder público, também produzir conteúdo que trace cenários e contextos, de desafios de políticas públicas de momento para a sociedade. “É cada vez mais notório que, mesmo medidas legislativas ou do Poder Executivo, só conseguem ser efetivas, e até mesmo aceitas, se a sociedade entende e concorda com os propósitos e apoia.  Assim, incluir a questão ambiental como uma pauta permanente, sob o viés de atuação e debate daquele poder público, é uma maneira da comunicação envolver todo cidadão, permitir uma visão complementar da mídia privada, e tornar o assunto relevante e prioritário. A comunicação pública tem esse poder, de dar um recorte em temas de médio e longo prazo, que vão além da troca diária de pautas momentâneas”, declarou o jornalista e fundador do portal Pro Legislativo.

O seminário foi uma iniciativa da ASTRAL – Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas, em parceria com o Departamento de Comunicação da ALESP e com o Portal Pro Legislativo, e contou com o apoio da ABEL – Associação Brasileira das Escolas do Legislativo e de Contas. O objetivo do evento era propor uma reflexão e debate sobre como os setores de comunicação dos poderes públicos, e suas assessorias de imprensa, portais, e emissoras de Rádio e TV, podem contribuir de forma mais efetiva para as situações de calamidades apontadas pelos últimos anos. “Nós somos comunicadores. E nada é mais necessário do que os comunicadores aprenderem a como se comunicar e unir as pontas, que é o conhecimento da ciência dos especialistas com a necessidade de informação da população”, afirmou o presidente da ASTRAL, Gerson de Castro.


(Sérgio Lerrer, Gerson de Castro, Jorge Duarte, Marcelo Simões Damasceno e Luciana Rivelli)*

Assista ao seminário na íntegra aqui

Marcaram presença os diretores regionais da ABCPública em São Paulo, Michel Carvalho e Kátia Vanzini, e o associado Marcelo Simões Damasceno, representando a Câmara de Itapevi e a ABEL. Também estiveram presentes gestores e profissionais de comunicação de diferentes órgãos públicos de Estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Amazonas, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Bahia.

O evento ainda teve painelistas como Alexandre Saltz, procurador do Ministério Público do Rio Grande do Sul; Ruy Marcelo, procurador de Contas do MPC/Amazonas; Fábio Feldman, consultor e advogado na área ambiental, ex-Secretário de Meio Ambiente de SP; Jean Pierre Ometto, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre outros jornalistas do setor público.


(Michel Carvalho, Jorge Duarte, e Kátia Vanzini)**

Créditos fotos:
Marco A. Cardelino (Alesp)*
Michel Carvalho (arquivo pessoal)**

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