Agentes culturais, colecionadores, historiadores, investidores, galeristas e artistas debatem, com certa regularidade, sobre o significado de colecionar no mundo das artes.
O ato de colecionar arte contemporânea modificou-se muito nos últimos 15 anos. Mas por que a arte contemporânea, antes vista como uma piada sem graça, passou a ser referenciada e respeitada por todo o mundo?
Dinheiro tem a alguma coisa a ver com isso. Queda do comunismo, globalização, emergência de uma riquíssima classe internacional, sendo a arte um investimento seguro e preferido dos que enriqueceram recentemente. É fato que as coleções de arte contemporânea tendem a ser verdadeiras representações do que está acontecendo no mundo.
O inicio do século XXI assistiu a uma produção artística exagerada, possibilitando o surgimento de um círculo vicioso de produção/venda/posse, que foi acompanhado por um exacerbado aumento da demanda, processo impulsionado por colecionadores e acumuladores, aqui entendido como colecionar meramente como investimento financeiro e acumulo de bens.
Colecionar, segundo Jean Baudrillard[1], “é a urgência de erguer um sistema permanente e completo contra o poder destrutivo do tempo.”
O ato de colecionar origina-se da necessidade de contar histórias, embora não haja formas estruturadas de narrativa para isso. Quando se coleciona, compõe-se uma história que caminha com seu tempo.
Histórias são frequentes em nossas vidas. Temos capacidade de repetir, recontar e proliferar as mesmas histórias através do tempo e é isso o que nos dá um sentido de permanência e origem.
Os colecionadores de arte contemporânea buscam validar seu acervo por meio da exposição de suas obras. O curador tem um papel importante no sentido de orientar que as coleções sejam elaboradas com mais reflexão.
Seriam os Centros Culturais espaços mais adequados a esse fim?
Permito-me, aqui, uma abordagem motivada pela minha experiência profissional adquirida como coordenadora dos trabalhos desenvolvidos pelos Centros Culturais Banco do Brasil.
Centros Culturais, inclusive públicos, são espaços destinados ao novo pensar, expresso em diversas linguagens artísticas, que buscam enfatizar a relação entre cultura e sociedade. Espaços de convivência e vivência que permitem experenciar as obras expostas. Tem a responsabilidade de comunicar o que está sendo apresentado e assimilar o entendimento do publico visitante, retornando para a sociedade o conhecimento por ela adquirido.
Pensar Centros Culturais além da obviedade é contribuir, em última análise, na construção de sociedades capazes de entender o presente como uma transição entre o passado e o futuro. E mais, dar a elas a oportunidade de participar dessa construção.
Fonte: artigo de Giselle Frattini Vieira, graduada em Artes Plásticas pela UnB, pós-graduação em Marketing pela UFRJ, consultora em projetos culturais. E-mail: gifrattini@gmail.com
[1] Jean Baudrillard. A Marginal System: Collectiong. The System of Objects