Informar sem alarmar

Por Observatório da Imprensa

Calma, minha gente! Passeando pelo livro Para que serve a Sociologia? (Ed. Zahar, 20015), de Zygmunt Bauman, deparei com a frase: “…Portanto, sim, tal como outras mercadorias, a sociologia precisa criar ‘clientes’ para o serviço que oferece… Alguns produtos têm mais chances de ver cumprida essa obrigação, enquanto outros têm poucas ou nenhuma…” Este é o caso das notícias médicas. O público-alvo está garantido, por razões óbvias. A obrigação dos médicos, dos noticiosos etc. deve ser com a probidade. É mandatório manter-se honesto e, quando o alarme for disparado, deverá ser ouvido e entendido. O conjunto de comedimento, esclarecimento e cuidado será sempre a melhor política, assim como aguardar os acontecimentos com base, cuidado e discernimento.

Por mais que a medicina avance, ela é uma arte-ciência e, portanto, muita cautela com as “notícias”. Em biologia, é muito mais difícil e complexa a asseveração. Não é à toa que muitos costumam afirmar: “A medicina é a ciência das verdades transitórias.” Eu concordo com esse dito. Qualquer gestação, por melhor e mais recente que seja a tecnologia adotada, é e sempre será uma incógnita. A sequência, da concepção ao nascimento, é um dos grandes mistérios da vida. Lembrem-se que a distância temporal entre heresias, superstições e verdades proclamadas/noticiadas “antes do tempo” pode ser uma fórmula para o fracasso. E mesmo com toda a tecnologia de ponta, pode vir a ser um montão de lixo. Calma, minha gente.

Informar sem alarmar é uma ação muito complexa e, em determinados casos, impossível. Basta que se use a palavra epidemia para gerar como retorno o maior medo humano: o sentimento de doença e morte. E quando se trata de algo que mexa com a perpetuação da espécie… a notícia desanda. E, o que é pior, geralmente distorcida e atemorizante. A medicina não foge à regra, ao utilizar, cada vez mais, a análise de dados para cruzar informação sobre doenças, epidemias e demais acontecimentos a elas relacionados.

Um prévio e bom conhecimento

Refiro-me aqui, em especial, ao surto dos casos de nascimentos de bebês portadores de microcefalia (ver portais UOL, G1, r7, entre outros), atribuído ao vírus da Zika (hipótese ainda não comprovada). Esse vírus foi isolado pela primeira vez em 1947, num macaco rhesus utilizado para pesquisas na floresta de Zika, em Uganda, no continente africano. Duas décadas depois, ele foi diagnosticado em seres humanos na Nigéria. Dali, espalhou-se por diversas regiões da África e da Ásia e alcançou a Oceania. O vírus Zika utiliza o mosquito transmissor do gênero Aedes (Aedes albopictus, africanus, apicoargenteus, furcifer, luteocephalus etc.) como vetor para sua transmissão. Esses mosquitos também transmitem a dengue, a febre chicungunha e a febre amarela. Seres humanos e macacos costumam ser os hospedeiros das doenças.

Insisto em chamar a atenção tanto dos profissionais da saúde quanto dos da mídia. Não importa sua motivação, seja pelo furo jornalístico ou pela busca de brilho profissional, é fundamental – para quem não deseja ferir a ética e, sobretudo, quando divulga notícias para um público não especializado – possuir um prévio e bom conhecimento do que realmente importa ao grupo que pretende alcançar. Lembrar sempre, quando acontece alguma notícia inesperada, que o açodamento pode desviar a atenção da população para longe dos seus verdadeiros problemas.

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