A desinformação sobre o autoexame – que não é a melhor forma de prevenção – é principal desafio na comunicação neste mês
Em outubro, o Brasil fica cor-de-rosa. A cor, que ilumina monumentos históricos e prédios públicos e enfeita os laços que simbolizam o movimento, serve para promover a conscientização e estimular a participação da população no controle do câncer de mama. E se o assunto é informar, as mídias sociais são uma ferramenta extremamente eficaz.
“Além de uma poderosa ferramenta de conscientização, as mídias sociais podem trazer um novo insight sobre as barreiras enfrentadas pelos pacientes em busca de detecção precoce ou mesmo de tratamento”,aponta a oncologista Luciana Clark, diretora de Comunicação Científica da Evidências – Kantar Health.
Foi o que demonstrou um estudo publicado este ano na revista Breast Cancer Research and Treatment, que analisou mais de 1 milhão de posts sobre o câncer de mama. Utilizando um avançado software para mineração de dados, os autores detectaram que 38% dos posts abordavam dificuldades relacionadas ao diagnóstico e tratamento da doença. Entre estas barreiras estavam aspectos emocionais (medo, ansiedade, negação, depressão); crenças pessoais (percepções errôneas, preferências e aspectos religiosos e espirituais); e aspectos físicos (efeitos colaterais e mudança corporal provocados pelo tratamento), além de falta de recursos financeiros, comunicação ruim com a equipe de saúde e experiências prévias negativas.
“Muitas destas barreiras podem ser removidas através da educação, melhora da comunicação e suporte psicológico, o que aumentaria o acesso dessas pacientes aos exames e ao tratamento. Daí a importância das redes sociais para mapear estas dificuldades e realizar uma intervenção positiva”, afirma Clark.
Outra pesquisa recente publicada no Journal of Medical Internet Research avaliou a eficácia do Twitter como meio de educação sobre o câncer de mama e seu impacto na ansiedade dos participantes, e demonstrou que a maioria dos participantes (80,9%) afirmou que os tweets trouxeram aumento do conhecimento geral sobre o tema, também ajudando a obter mais informações sobre estudos clínicos e pesquisas e a ter mais informações sobre opções de tratamento.
Desinformação sobre o autoexame
Mas nem sempre as mídias sociais são utilizadas de forma benéfica. Um estudo, publicado em 2015 no Journal of Health Communication, analisou as mensagens postadas na página do Facebook de uma ONG americana voltada para a conscientização sobre o câncer de mama durante o Outubro Rosa. Os resultados demonstraram que nem sempre a página do Facebook trouxe informações de saúde válidas e, ainda, focou mais na venda de mercadorias para arrecadar fundos do que na educação dos usuários.
Além disso, tanto as mídias sociais como a grande mídia muitas vezes veiculam informações incompletas, descontextualizadas e até mesmo desatualizadas durante o Outubro Rosa, o que pode desorientar o público no que se refere à prevenção e ao tratamento do câncer de mama.
Em um levantamento realizado no ano passado pela Evidências – Kantar Health, constatou-se que as campanhas no Brasil e em outros países da América Latina focam principalmente no autoexame, apesar da abundância de evidências científicas sugerindo que este procedimento não é eficaz para a detecção e não contribui para reduzir a mortalidade por câncer de mama.
O Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) não estimula o autoexame das mamas como estratégia isolada de detecção precoce do câncer de mama. A recomendação do instituto é que o exame das mamas pela própria mulher seja parte das ações de educação para a saúde que contemplem o conhecimento do próprio corpo. De acordo com a oncologista Bruna Pegoretti, diretora do departamento de Medical Intelligence da Evidências – Kantar Health, apenas o autoexame das mamas não ajuda a detectar o câncer.
“O diagnóstico precoce é fundamental para o aumento das chances de cura, já que estão diretamente relacionados ao estágio da doença ao diagnóstico, então mamografia e visitas periódicas ao seu médico são fundamentais”, afirma.
Como se cuidar
No Brasil, a recomendação do Ministério da Saúde é a realização da mamografia de rastreamento (quando não há sinais nem sintomas) em mulheres de 50 a 69 anos, uma vez a cada dois anos. Apesar da recomendação do ministério, 40% das mulheres brasileiras nessa faixa etária não realizam mamografia, de acordo com o Inquérito Nacional de Saúde realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, dados do INCA apontam que apenas 2,5 milhões de mamografias foram realizadas em 2014, representando uma taxa de 24,8% – ainda muito abaixo da recomendação pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 70%. O diagnóstico precoce é importante no câncer de mama porque quando mais cedo a doença for detectada, mais fácil será trata-la e maior serão as chances de curá-la.
Fonte: Kantar