Com austeridade, fechamos o ano zerados. Cortes de estrutura e despesas, definição de prioridades, e deu-se o inimaginável: contas saneadas, déficit zerado
Não se pode desprezar a força, a penetração da mídia tradicional. Jornais, TVs abertas, rádios com comunicadores ainda são os maiores veículos de informação da desigual nação Brasil. Mas web, nuvens, streaming, smartphones são signos dos novos tempos que bafejam os cangotes de qualquer indivíduo que faz comunicação, que a consome, que estuda o fenômeno.
Como conciliar os dois tempos? A era da celeridade na internet, com produtos on demand, versus o hábito consolidado da informação empacotada, pronta. Quando e como abandonar o passado e abraçar a modernidade?
É sobre essa base cediça que se tenta equilibrar o complexo de comunicação do governo, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC): oito rádios, duas TVs (NBR e Brasil), uma agência de notícias, uma plataforma web.
Embutidos nesta estrutura pesada, anacrônica, carente de investimentos, dois conceitos em tese antagônicos: a comunicação pública, cuja face mais vistosa é a TV Brasil, e a comunicação de governo, com uma TV dedicada à divulgação dos atos do Executivo, NBR.
Na concepção romântica que criou a EBC, sucedânea da Radiobrás, o Fundo Setorial das Telecomunicações suportaria os investimentos. Não foi o que ocorreu. Desde a criação, para formar superávit primário, o fundo foi entesourado. Mais de R$ 3 bilhões são hoje objeto de disputa judicial. O Tesouro Nacional suporta o complexo de comunicação.
A atual administração assumiu em 15 de setembro de 2016. Herdou passivo de R$ 94 milhões, recheado de contratos generosos distribuídos aos amigos do poder — e bota amigos nisso. Com austeridade, fechamos o ano zerados. Cortes de estrutura e despesas, definição de prioridades, e deu-se o inimaginável: contas saneadas, déficit zerado.
A troca de comando na programação da TV Brasil produziu uma televisão de melhor qualidade, com faixas segmentadas. Quatro horas de jornalismo diário ao vivo e a organização da programação infantojuvenil tiraram a TV do marasmo. Consumindo menos R$ 40 milhões, deixou de ser a TV-traço e atingiu índices de 4% em vários momentos, como no carnaval e no 7 de setembro.
Com o orçamento cortado de R$ 220 milhões para R$ 127 milhões, incentivamos a produção própria. Apostamos em talentos da casa e treinamos jovens concursados. Hoje, nossa fábrica produz 681 horas de programação inédita. A Rede Nacional de Rádio teve 550 mil áudios acessados neste primeiro semestre. A EBC distribui produtos, como a consagrada “Voz do Brasil”, a nove mil emissoras de todo o país. A Rádio-Agência produz 80 matérias por dia, em média. Todo o material da NBR é consumido, graciosamente, pelas TVs comerciais. BandNews, GloboNews fazem transmissão simultânea de conteúdos ao vivo da NBR, sempre que há manifestações importantes do governo federal.
Em novembro, estaremos no Line-Up HD (alta definição) das operadoras de canais a cabo e por satélite. Até o fim do ano, o Plano de Demissão Voluntária estará implantado. Trata-se de pressuposto para implementar um projeto de empresa mais leve, mais adaptada aos novos tempos, priorizando serviços que atendam às necessidades do cidadão.
A crise é a brecha para a criação. Mais do que nunca, a EBC aposta na inventividade de seus funcionários. Nos aguardem.
Texto: Laerte Rimoli, diretor presidente da Empresa Brasil de Comunicação
Fonte: O Globo