Zygmunt Bauman: “As redes sociais são uma armadilha”

Por não favorecerem o diálogo que realmente importa (com quem pensa diferente), o sociólogo polonês Zygmunt Bauman alerta sobre as armadilhas que representam as redes sociais. Autor de obras como “Modernidade Líquida”, “Globalização: as Conseqüências Humanas”, Bauman adverte que as redes sociais são muito prazerosas, mas não ensinam a dialogar.
 
Nestes tempos de polarização e discussões acirradas, Conexão Pública reproduz a resposta do sociólogo ao jornal espanhol “El País”, quando questionado sobre o ceticismo em relação á internet e ao que classifica como “ativismo de sofá”:
“A questão da identidade foi transformada de algo preestabelecido em uma tarefa: você tem que criar a sua própria comunidade. Mas não se cria uma comunidade, você tem uma ou não; o que as redes sociais podem gerar é um substituto. A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você. É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas.
Nas redes é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. Elas são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com quem se precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as dificuldades, se envolver em um diálogo. O papa Francisco, que é um grande homem, ao ser eleito, deu sua primeira entrevista a Eugenio Scalfari, um jornalista italiano que é um ateu autoproclamado.
Foi um sinal: o diálogo real não é falar com gente que pensa igual a você. As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha”.

 

Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/30/cultura/1451504427_675885.html

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