Abril Verde: Quem cuida de quem comunica?

Em preparação para a 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, a ABCPública sediou, nesta segunda-feira (14/4), um debate virtual sobre saúde, direitos e valorização profissional na comunicação pública. A atividade reuniu comunicadores de diversas regiões do país para discutir temas como assédio, sobrecarga de trabalho, vínculos precários e desinformação. Um documento com propostas será finalizado até o fim de abril e encaminhado à etapa nacional da conferência, em agosto.

 

O direito ao trabalho em condições adequadas de saúde e segurança ganha visibilidade especial durante o mês de abril, por meio do  “Movimento Abril Verde”. Trata-se de uma campanha para orientar e conscientizar toda a sociedade, especialmente empregadores e  trabalhadores, sobre as consequências de um ambiente de trabalho tóxico, estressante, que afasta ou mutila milhares de trabalhadores a cada ano.

 

A rotina de trabalho em todas as áreas da comunicação, seja no meio privado ou público, tem como atributos típicos pressões por prazos, equipes reduzidas, profissional convocado a ser multitarefa, excesso de jornada. Em pesquisa realizada, em 2025, pela Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública), junto a seus associados, cerca de 1 a cada 5 trabalhadores na área da comunicação pública classificou a sobrecarga de trabalho como um dos principais desafios. Nessa mesma pesquisa, cerca de 2 a cada 5 trabalhadores citaram o orçamento reduzido e a falta de infraestrutura como fatores presentes em suas rotinas de trabalho.

 

Os impactos das novas tecnologias e do modo de organização do trabalho de profissionais de comunicação, vem sendo assunto de debates públicos nos últimos anos. Em 2024, em  audiência promovida pelo Conselho de Comunicação Social do Senado foram destacados pontos sensíveis, como a ausência de normas de saúde e segurança específicas para os profissionais de comunicação e o aumento da ocorrência de problemas como a síndrome de burnout, distúrbio emocional que se manifesta como esgotamento provocado pelo excesso de trabalho, nos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador. A ABCPública, por meio de seu Comitê de Carreira e de parceria com outras entidades, promoveu em 2024 um seminário para debater “o papel e a carreira do comunicador no serviço público”, com íntegra ainda disponível para visualização.

 

O avanço da causa depende da mobilização de profissionais da carreira: “a participação de profissionais desse campo será valiosa nesse processo coletivo em que a voz de quem comunica informações de interesse público será ouvida e poderá impactar em políticas públicas pela defesa de nossa saúde e do combate à desinformação”, explica Débora Pinheiro, membro da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública), que integra a organização da iniciativa.

 

No acervo de teses e dissertações da Biblioteca da ABCPública alguns estudos reunem dados e informações importantes sobre a realidade enfrentada pelos profissionais. O associado da ABCPública, mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Victor França, conduziu pesquisa sobre as políticas de comunicação nas Universidades brasileiras. Ele estudou, entre outros aspectos, sobre a falta de estrutura e equipe adequadas para que se tenha uma comunicação eficaz e eficiente, realidade recorrente em órgãos de quase todas as esferas do poder público.

 

“Na minha dissertação de mestrado, em que consultamos 68 das 69 universidades federais, verifiquei que há assimetrias nas estruturas de comunicação das instituições. […] No conjunto, constatamos que o quantitativo de profissionais atuantes na área de comunicação social nas instituições federais de ensino superior é inadequado. Há instituições com apenas um profissional para lidar com públicos estratégicos com milhares de pessoas, o que chega a ser cruel e puxa a democracia para baixo, porque, provavelmente, não será possível executar um trabalho totalmente exitoso como poderia ou deveria ser à sociedade.”

 

Victor também comentou sobre como essa falta de estrutura afeta os comunicadores: “Considerando que o comunicador público precisa lidar com uma multiplicidade de tarefas, certamente há um fator adicional de desgaste emocional: o comunicador público, de certa forma, ajuda a compor a vitrine da instituição. Com um quantitativo de profissionais de comunicação abaixo do necessário, se a instituição performa mal na imprensa ou nas redes sociais, por exemplo, esses profissionais são expostos e ainda podem se sentir culpados pela inexistência de um pacto nacional que jogue luz à carreira do comunicador público. O acúmulo de funções em “euquipes” ou setores muito reduzidos tende a gerar, sim, quadros de estresse, exaustão, adoecimento mental e até físico.”

 

Outros estudos disponíveis na Biblioteca da ABCPública tratam de estruturação de equipes, organização do trabalho e podem oferecer insights para comunicadores repensarem a organização de trabalho onde atuam, como a pesquisa de âmbito regional “Legislativos municipais no ambiente digital: a perspectiva de quem faz (ou tenta fazer!) Comunicação pública” (integra aqui), ou o estudo de âmbito federal “Mudanças nas rotinas de produção do jornalismo da Câmara dos Deputados: o processo de integração das mídias legislativas” (íntegra aqui); ou este que trata de uma realidade em município: “Desafios da comunicação pública no Recôncavo da Bahia: estudo de caso do município de Amargosa” (íntegra aqui)

 

Estes e outros estudos podem ser encontrados na Biblioteca da ABCPública, disponível aqui, ou, se preferir ir direto à dissertação de Victor França, clique aqui.

 

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