A COMUNICAÇÃO PÚBLICA PODE FORTALECER A POLÍTICA PÚBLICA CULTURAL?

PAIM KOHLER, D.; SAVIO CAMPOS DE AZEVEDO, D. A COMUNICAÇÃO PÚBLICA PODE FORTALECER A POLÍTICA PÚBLICA CULTURAL?. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 13, n. 1, 16 nov. 2021.

AZEVEDO, Domingos Savio Campos De e KOHLER, Daiane Paim

Ao explorar a literatura, busca-se neste ensaio discutir de que forma a comunicação pública pode fortalecer as manifestações culturais, entendendo a cultura como o modo de vida próprio de cada povo, como explica Vila Nova (2016). Disseminada pela socialização entre os indivíduos, a cultura é o fundamento das sociedades, transmitida entre as gerações. Através da história, as relações sociais humanas sofreram grandes transformações, principalmente com o advento das tecnologias que não só acelerou o processo de difusão das informações como também causou e ainda causa mudanças de comportamentos, valores e até mesmo influencia as tradições culturais. Autores como Llosa (2013), Lipovetsky e Serroy (2015), e ainda Anderson (2006) são trazidos aqui para destacar alguns aspectos dessas mudanças culturais que se observa de forma globalizada. Considerando a necessidade de introjetar uma ação política que valorize mais a cultura e as políticas públicas culturais, contamos com as agências de socialização, em especial a família, a escola e a mídia. A mídia atua como veículo de informações e também como formadora de opinião. Assim, o objetivo aqui é que, a partir desta socialização, os cidadãos compartilhem um conjunto de orientações e atitudes políticas positivas em relação a cultura e as políticas públicas de cultura, tornando-se atores políticos ativos na defesa desta causa. Podemos considerar a comunicação de interesse público como sendo fundamental para que as políticas públicas culturais sejam levadas a termo de forma satisfatória. Ela coloca a centralidade do processo de comunicação nos atores políticos da cultura, por meio da garantia do direito à informação e à expressão, mas também do diálogo, do respeito a suas características e necessidades, do estímulo a participação ativa, racional e corresponsável. O avanço das mídias, dos aparelhos que reproduzem a estrutura tecnológica que vivenciamos hoje, permite a ascensão de infinitas comunidades de políticas públicas, com uma diversidade de possibilidades e focos diferenciados. Assim, um produtor de conteúdo não está mais isolado, definindo o que e como será consumido. Os cidadãos também atuam em diferentes escalas como coprodutores e em outros momentos também podem assumir o papel de produtores de conteúdo para a cidadania. E justamente a tecnologia pode ser um meio pelo qual a consolidação da comunicação de interesse público pode ser efetivada e ampliada, de forma a alcançar e interligar a sociedade civil organizada, o Estado e o mercado. A formulação de políticas públicas se constitui no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real. Mesmo naqueles países onde o financiamento privado é predominante sobre os públicos, o Estado regula estes investimentos e se mantem presente economicamente em atividades artísticas e culturais e principalmente no fomento da equiparação de minorias étnicas e culturais, lógica que não ocorre no Brasil. Um sistema efetivo de incentivo à cultura só será possível por meio de sólidas políticas públicas destinadas à área cultural. Hoje não se fala mais em democratização da cultura, mas sim em democracia cultural. Não se trata de colocar a cultura ao alcance de todos, mas de fazer com que todos os grupos possam viver sua própria cultura. Pelo explorado neste ensaio, o questionamento inicial não se esgota, mas ao contrário, amplia-se: por que tanta diversidade cultural não se materializa em diferentes vertentes sociais, tais como a educação, a economia e outras frentes de desenvolvimento? Ao falar em cultura é preciso ter em vista que todas as suas manifestações importam e a tida cultura erudita é apenas uma vertente entre tantas outras formas. É necessário entender e refletir nas políticas públicas de cunho cultural que não existe cultura inferior ou superior, mas sim, diferentes e de igual importância. Extinguir os preconceitos e as limitações entre as culturas elitistas e populares, além de estimular a diversidade cultural também são formas de fortalecer nossa cidadania, nossa democracia. E uma das maneiras para atingir a esse objetivo é consolidar as políticas públicas culturais se valendo da comunicação pública e demais processos de informação como importantes indicadores a serem captados no fortalecimento do interesse público.
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