A construçaõ da comunicação pública na percepção de jornalistas da EBC: potencialidades e limites

DUARTE, Lívia Dias Moreira. A construção da Comunicação Pública na percepção de jornalistas da EBC: potencialidades e limites. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). Brasília, 2019.

DUARTE, Lívia Dias Moreira

Esta pesquisa trata da percepção de um grupo de jornalistas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) sobre potencialidades e limites de seu trabalho, tendo em vista os princípios e objetivos da EBC previstos em Lei (BRASIL, 2008) e as melhores práticas de radiodifusão reconhecidas internacionalmente (UNESCO, 2001). Compreendemos que a percepção (MERLEAU-PONTY, 1999) se dá a partir da relação de cada sujeito com outros e com o mundo. Nesse caso, são fatores influentes o difícil processo de montagem e o atual desmonte da EBC, bem como sua origem em instituições de comunicação estatal e educativa. Delas a EBC recebeu parte de seus trabalhadores, forjados nas respectivas culturas institucionais. A percepção sobre a empresa é marcada também pela realidade da radiodifusão no país, historicamente concentrada e com foco comercial, com pouca tradição pública. Por fim, ao pertencerem ao campo jornalístico (BOURDIEU, 1997, 2010), espaço estruturado, com diversas forças e relações que envolvem lutas para transformar esse espaço, os jornalistas criam um habitus (BOURDIEU, 1997, 2010) profissional que lhes faz ver, avaliar e construir a realidade (BERGER e LUCKMANN, 2011) com o olhar próprio da tribo jornalística (TRAQUINA, 2018a). A construção do habitus passa pela formação acadêmica e vivência em redações. São experiências relacionadas ao modo como as notícias são produzidas (TRAQUINA, 2018; WOLF, 2008), e que impõem práticas e formatos que não necessariamente dialogam com as finalidades da comunicação pública. Considerado esse cenário, questionamos se houve condições dos jornalistas da EBC modificarem seu habitus, ou seja, um princípio gerador e regulador das práticas cotidianas, para a realização dos princípios e objetivos da empresa, e se esta estabeleceu cultura institucional própria sobre os ecos de suas antecessoras. Realizamos investigação qualitativa (FLICK, 2009) baseada em entrevistas semiestruturadas com 16 trabalhadores. Nossa reflexão se baseia na discussão teórica aqui exposta e em técnicas da análise temática de conteúdo (BARDIN, 1977). As conclusões revelam que o grupo de jornalistas, de modo geral, dialoga com o debate sobre a comunicação pública, intenciona colaborar, por meio do seu trabalho, para a construção da cidadania e valoriza positivamente as estruturas de controle social. No entanto, os entrevistados indicam haver pouca homogeneidade no conjunto do corpo funcional, revelando rotinas inadequadas para produzir comunicação diferenciada conforme princípios da radiodifusão pública. Vivendo o desmonte, revelam a perda da relativa autonomia editorial frente aos governos e a incompletude da construção de um habitus estruturado a partir da missão da EBC. Deste modo, a pesquisa avalia que a boa gestão de pessoal, e, neste caso especificamente de jornalistas, por realizaram a atividade-fim da empresa, é central para a execução desta política de comunicação pública.

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