Curso de Comunicação Pública ABCPública/Aberje debate Linguagem Simples

O Curso Completo em Comunicação Pública 2025 teve início neste sábado (17), em uma realização conjunta da ABCPública e da Aberje. A aula inaugural foi dedicada ao tema da Linguagem Simples, com uma palestra conduzida por Heloísa Fischer e um painel que reuniu experiências concretas de aplicação da abordagem em instituições públicas, apresentados por Welkey Costa, Patricia Roedel e Olivia Farat. O encontro reuniu profissionais de diferentes regiões e perfis, refletindo o caráter plural da formação e a relevância crescente do tema no setor público.

Ao discutir desde os fundamentos da Linguagem Simples até seus impactos em políticas públicas, plataformas digitais e ações de reinserção social, a atividade reforçou o papel fundamental dos comunicadores públicos na promoção da clareza, da equidade e da cidadania a partir de sua atuação nas instituições. Em um contexto marcado por emergência climática, sobrecarga informacional e desafios democráticos, o curso propõe-se como espaço de formação crítica, aprendizado colaborativo e atualização profissional, colocando a linguagem como vetor essencial de transformação institucional.

  • Falta de clareza e Linguagem Simples

 

Heloísa iniciou sua apresentação “Falta de clareza, Linguagem simples e clima” focando no porquê de haver tanta resistência em se comunicar de forma clara, citando motivos como o preconceito com a mudança, por acharem que iria desqualificar os especialistas ou empobrecer o texto ou a descrença do comunicador, em achar que sua linguagem já é clara o suficiente. Também foi pontuado na palestra dados que mostram a falta de leitura e compreensão do brasileiro, com apenas 10% sendo capazes de, por exemplo, verificar a veracidade de informações ou narrativas que lêem. Após explicada a resistência, foi explicada então aspectos básicos do movimento da Linguagem Simples, definido como Heloísa como “meio informal”, por não haver uma declaração universal como outras causas, todavia ela se mostra presente em mais de 45 países, com a premissa de que todos devem ter o direito de entender as informações que orientam o cotidiano. O movimento surge com essa ideia de justiça social, ganhando corpo nos países de língua inglesa, porém logo chegando nos países de língua latina. Anos após 15 anos de deliberação, o comitê internacional chegou em uma norma técnica, a norma ISO, adotada em diversos países para, segundo eles, colocar o leitor em primeiro lugar, definindo 4 princípios para a Linguagem Simples: ser relevante, localizável, compreensível e usável.

 

Em sua apresentação Heloísa também comemora as conquistas da Linguagem Simples no Brasil, como o crescimento desde 2018, como os 38 mil certificados no curso Enap, sendo 26 mil servidores públicos, os casos de sucesso no setor pública, a incorporação do tema em estratégias de inovação, além do aspecto legislativo, com leis estaduais e municipais, juntamente com uma PL em fase final de tramitação no Congresso Nacional, que estabelece uma Política Nacional de Linguagem Simples na Administração Pública.

 

Segundo Heloísa, há aspectos que se mostram ameaçadores a implementação da Linguagem Simples, tais como o Ciclo Hype de Gartner, que sugere que talvez a Linguagem Simples esteja apenas no seu ápice de interesse, e logo mais cairia no esquecimento, assim como a dificuldade de assimilação rápida da Linguagem Simples, que apresenta um novo aspecto cultural, o que geralmente demora a ser aceito e adotado, dando margens para passar o “hype”. Outros aspectos desafiador seriam as Inteligências Artificiais, como o ChatGPT, que oferece uma visão da escrita, além da técnica, é um panorama mental, um mindset, de velocidade.

 

A Linguagem Simples também enfrenta represália de outras associações, como a Abralin, que fez comunicados de repúdio ao PL que estabelece a Política Nacional de Linguagem Simples, chamando-a de terraplanismo linguístico e pseudotécnica.

  • Clima e Comunicação

 

Heloísa focou também na crise climática, citando Barack Obama “Somos a primeira geração a sentir os impactos das mudanças climáticas e a última que pode fazer algo a respeito”, traçando o paralelo com os profissionais de comunicação, que têm visão crítica, senso de urgência e coragem para transmitir o que precisa ser dito, e a realidade, e que mais do que nunca esse ethos precisa ser utilizado nessa nova realidade pós-aquecimento.

 

Trazendo esse tema para perto da Linguagem Simples, Heloísa fez considerações sobre a divulgação e propagação, lidando com aspectos como a dificuldade de compreensão de gráfico, que exigem uma compreensão multimodal (escrita além de imagens), um vocabulário técnico-científico que não é compreensível para muitos e uma sintaxe que sugere incerteza.

  • Caso Redução da população carcerária

 

Após a palestra, foram iniciados painéis com convidados, que apresentaram cases de sucesso a respeito da Linguagem Pública em instituições públicas, começando por Welkey Costa, coordenador do LabLuz, que começou dando um exemplo da ineficaz comunicação carcerária, que acaba por fazer com que muitos ex-presos retornem às prisões por atos que eles mesmos não entendem, como estar em casa depois de certo horário, ou não pedir autorização para ir a certa distância de sua casa. Esse aspecto gerou a necessidade e a vontade de transformar a Linguagem em um instrumento para diminuir a carga carcerária no estado do Ceará, utilizando da Linguagem Simples para informar ex-detentos de suas obrigações e cuidados necessários para que dessa forma a mensagem pudesse ser entendida pelo receptor, gerando assim menos transgressões que os fariam retornar ao sistema carcerário.

 

A iniciativa se mostrou um enorme sucesso, pois no período de um ano após a implementação da Linguagem Simples em panfletos para os ex-detentos, houve uma redução de 31,54% em regressões de regime penal gerais, segundo Welkey, zerando os casos de pessoas que voltaram a ser encarceradas por descuidos.

  • Linguagem SImples na Cãmara dos Deputados

 

O segundo case ficou a cargo de Patrícia Roedel, jornalista e conselheira consultiva da ABCPública, que contou o caso da Linguagem Simples na Câmara dos Deputados, seu local de trabalho. Patrícia contou sobre o projeto para mudar o portal da Cãmara, porque se notou uma série de dificuldades das pessoas em realizar tarefas e encontrar informações nele. Esse projeto se mostrou enorme pois envolvia diversas áreas diferentes que precisariam colaborar para que o novo portal funcionasse. Primeiramente foi feito um diagnóstico, que mostrou que mais da metade das pessoas com ensino médio completo não conseguiam sequer completar as tarefas passadas a elas.

 

A ideia pela Linguagem SImples surgiu na segunda parte, quando o problema se mostrou a arquitetura das informações, e com isso, a técnica foi escolhida para que, dentro do portal, os cidadãos encontrassem rapidamente o que procuram, entendessem imediatamente o conteúdo e conseguissem usar a informação para o que precisam. A partir disso, o menu foi diminuído, ficando mais simples e mais acessível, mudando a estrutura do site para que ficasse também mais fácil de compreender. Também foram adicionados temas que faltavam e que seriam de muito utilidade, como a carta de serviços ou uma página que reúne os gastos parlamentares. 

  • Programa Municipal de Linguagem Simples

 

O terceiro e último case ficou por conta de Olivia Forat, pesquisadora do LAB11, que falou sobre o Programa Municipal de Linguagem Simples da Prefeitura de São Paulo. Criado em 2019, tem o objetivo de sensibilizar e engajar servidores para escrever de forma mais simples, assim como simplificar documentos públicos e reconhecer boas práticas para facilitar o acesso da população aos serviços, e também disseminar conhecimentos e ferramentas para multiplicar as iniciativas de simplificação. Pelo número de organizações ser muito alto, a ideia foi dar mais autonomia para as equipes, reconhecendo as boas práticas da linguagem simples por meio do Selo Municipal de Linguagem Simples, servindo para textos, documentos e materiais públicos.

 

Para disseminar o conhecimento sobre a Linguagem Simples, o LAB11 lançou o guia e o mini-guia “Como fazer oficinas de Linguagem Simples?”, assim como algumas ferramentas de apoio, como o “Glossário de Linguagem Simples” e a “Trilha de Linguagem Simples” que juntam tudo que já foi produzido por essa iniciativa.

 

A última novidade é a Simplifica AI, uma inteligência artifical utilizada em prol da Linguagem Simples, diferentemente de como foi citada na palestra anterior, como uma ameaça, aqui a IA é uma ferramenta que pode ajudar, como um editor de texto focado na Linguagem Simples.

 

Após a apresentação de todos os cases, uma sessão de debate foi proposta pelo apresentador Jorge Duarte, onde os painelistas foram questionados sobre possíveis resistências acerca da implementação da Linguagem Simples em seus respectivos ambientes, assim como uma possível medição de resultado em uma esfera pública, como os cidadãos vêem essa nova era da Comunicação Pública.

  • Próximas aulas

 

Tudo isso foi apenas o primeiro dia do Curso Completo em Comunicação Pública 2025, o próximo módulo (Estratégia e Planejamento em Comunicação Pública) se inicia nesse sábado (24), para mais informações sobre o curso, clique aqui.

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