Europa questiona práticas do Facebook

Foto: John Thys/Getty Images.

As perguntas que Mark Zuckerberg ouviu dos parlamentares europeus foram muito mais duras do que as feitas por senadores e deputados americanos. Não houve, como no Capitólio, questões ingênuas ou que apontassem desconhecimento técnico. Bem o contrário. Ainda assim, por conta do formato escolhido para o encontro, pôde driblar todas as difíceis. Manfred Weber, da centro-direita alemã, indagou se não é hora de os europeus quebrarem o monopólio da rede, por ela não ter concorrentes. O britânico Nigel Farage, nacionalista radical e líder do movimento Brexit, acusou o Facebook de viés anti-direita, reclamou de estar sentindo o alcance de posts de seu grupo ideológico diminuir e pediu explicações sobre as agências de fact checking. (Mas não fez nenhuma pergunta sobre a Cambridge Analytica, que fez a campanha separatista britânica.) O ex-premiê belga Guy Verhofstadt, um liberal próximo da centro-esquerda, era um dos mais exaltados. Perguntou a Zuck como ele gostaria de ser lembrado. “Como Steve Jobs e Bill Gates, que enriqueceram a sociedade, ou como o gênio criador de um monstro digital que destrói nossas democracias?” Outro inglês, o conservador Damian Collins, se queixou de a companhia simplesmente ignorar seu compromisso de não permitir que os dados de pessoas que usam WhatsApp e Facebook sejam cruzados, como parece vir acontecendo.

Zuck só respondeu o que quis. Ele, que havia se comprometido em passar apenas uma hora com os parlamentares, aproveitou-se do formato proposto pelo presidente da Casa, o italiano Antonio Tajani. Primeiro os representantes continentais perguntaram, depois o CEO daria suas explicações. Como tomaram quase 50 minutos, o executivo gastou menos de trinta respondendo e aí deixou a sala, com pressa. Não entrou em detalhes específicos. Garantiu que a queda de leitura não tem viés ideológico. Há menos informação política sendo distribuída em detrimento de posts de amigos e família. Sobre monopólio, garantiu que sua empresa representa apenas 6% da verba publicitária global — por isso não domina o mercado que a sustenta. Ignorou o debate sobre cruzamento de dados. Os políticos se exasperaram ao perceber que haviam tomado uma volta. Ouviram a garantia de que as respostas por escrito para perguntas específicas virão.

Fonte: Meio, 23 de maio de 2018.
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