Grupos conservadores de extrema-direita compartilharam mais notícias falsas no Facebook do que todos os demais grupos políticos juntos nos três meses que antecederam o discurso do presidente Donald Trump sobre o Estado da União, no mês passado. A constatação é de pesquisadores independentes.
Pesquisadores do Instituto da Internet da Universidade de Oxford analisaram as afiliações políticas e os padrões de postagem de quase 48 mil páginas públicas do Facebook e de 14 mil usuários do Twitter, para identificar quais grupos postaram o maior número de informações erradas oriundas de sites duvidosos da internet.
A análise, um dos estudos mais amplos feitos até hoje sobre as notícias falsas (“fake news”, em inglês) veiculadas nas redes sociais, deverá elevar a pressão sobre as empresas de tecnologia para que enfrentem o problema das informações falsas na rede mundial de computadores, especialmente por causa de seu foco no alcance dessas informações.
Os pesquisadores constataram que grupos dos dois extremos do espectro político consumiram e compartilharam o maior volume de notícias falsas no período entre outubro de 2017 e janeiro deste ano. No entanto, os “conservadores linha dura”, da extrema-direita espalharam o maior número de informações falsas, enquanto que as contas com hashtags favorecendo o presidente Donald Trump dominaram as notícias falsas postadas no Twitter.
“Há evidências crescentes do aumento de uma polarização no cenário noticioso dos EUA, em resposta à eleição [presidencial] de 2016”, constataram os pesquisadores. “A confiança nas notícias está visivelmente dividida entre as linhas ideológicas, e um ecossistema de notícias alternativas está florescendo, alimentado por comentários extremistas, sensacionalistas e conspiratórios disfarçados, notícias falsas e outras formas de notícias enganosas.”
Os pesquisadores usaram inteligência computacional para identificar 13 grupos ideológicos que eles classificaram em categorias que vão de “conservadores linha dura” ao movimento “Occupy” e “direitos das mulheres”.
No Facebook, o grupo conservador linha dura compartilhou links para mais de 90% dos sites identificados pelos pesquisadores como fontes de “propaganda e informações políticas ideologicamente extremas, hiperpartidárias e conspiratórias”.
A pesquisa, que não foi revisada por especialistas, constatou que os diferentes grupos ideológicos se mostram profundamente polarizados. Os defensores de Trump foram os mais isolados no Twitter, compartilhando o menor número de links com notícias que também eram mencionadas por outros grupos.
Segundo Lisa-Maria Neudert, pesquisadora de Oxford, as notícias falsas compartilhadas antes do discurso de Trump sobre o Estado da União, em 30 de janeiro, incluíram um artigo afirmando que as vacinas contra a gripe são “a maior fraude médica da história mundial”. Outra alegava que a União Europeia é respaldada por uma ideologia “luciferiana”.
O estudo também avaliou se os grupos compartilham artigos que se enquadram em pelo menos três de cinco categorias “junk”, incluindo o não fornecimento de informações reais sobre os autores, a imitação de organizações noticiosas verdadeiras e o compartilhamento de visões partidárias exageradas.
As redes sociais há muito alegam que seus negócios dependem dos usuários poderem compartilhar histórias sem censura. No entanto, essa ideia vem sendo questionada desde que foi revelado que mensagens falsas oriundas da Rússia alcançaram quase 150 milhões de usuários do Facebook antes das eleições presidenciais americanas de 2016.
Segundo uma pesquisa do Reuters Institute, quase metade dos usuários das redes sociais nos EUA hoje usam o Facebook desde que foi revelado que mensagens falsas oriundas da Rússia alcançaram quase 150 milhões de usuários do Facebook antes das eleições presidenciais americanas de 2016. Segundo uma pesquisa do Reuters Institute, quase metade dos usuários das redes sociais nos EUA hoje usam o Facebook em busca de notícias.
As pressões por medidas reguladoras contra essas plataformas tecnológicas vêm aumentando em toda a Europa. No ano passado, a Alemanha introduziu multas de até € 50 milhões para empresas que não removerem mensagens de ódio ou notícias falsas até 24 horas depois do recebimento de uma reclamação.
Com as companhias de tecnologia se movimentando para afastar as críticas, o Facebook revelou amplas mudanças em seu fluxo de notícias no mês passado, num esforço para priorizar as notícias de “qualidade” que sejam “confiáveis, informativas e locais”.
“As pessoas querem ver informações confiáveis no Facebook – assim como nós”, afirmou o Facebook. Estamos interrompendo os incentivos econômicos porque sabemos que a maioria das notícias falsas tem motivação financeira.”
Fonte: Valor (Matéria original publicada no Financial Times).