O velho golpe da publicidade e o novo jeitinho brasileiro

Em qualquer campanha eleitoral do mundo, estrategistas são cientistas políticos formuladores de estratégias de argumentação e não propagandistas de efeitos especiais
Golpe? Que golpe vocifera a ocupante do Alvorada? E a claque repete num coro de estridentes que não vai ter golpe. Só se for o da publicidade, diria eu. O que os americanos chamam de publicity stunt, uma jogada de marketing, ou os franceses chamam de coup de publicité, coup de pub, cascade publicitaire. Ou em bom português: cascata. Sobretudo no cenário da política brasileira, ou ao que ficou reduzida a subcultura política brasileira, de toda sorte de trapaças, mentiras, traições, indecências, escárnios, ataque à propriedade do próximo e até mesmo à sua integridade física. Pela corrupção do valor da democracia numa prática política de pura demagogia, cleptocracia ou oclocracia, desde que o esquerdismo (uma degeneração da esquerda) se infiltrou nos quadros hegemônicos da socialdemocracia e socialismo nacionais, ao invés de sermos representados pelos melhores entre os cidadãos de bem, como já se disse, somos representados pelos piores dos cidadãos de bens. E tenho reiterado aqui: não adianta lúcidas análises de nossos grandes problemas políticos, econômicos, sociais e morais. É urgente o consenso entre segmentos da academia que não esteja comprometida com o Estado dominado pelo anarco-petismo; de profissionais de mídia cansados da cobertura do blá blá blá dos políticos profissionais; de parte de um estamento burocrático de carreira de estado que busca autonomia dos políticos fisiológicos; e de lideranças de empreendedores sociais e privados que não compactuam com o cinismo generalizado. Este consenso em torno de uma agenda reformista do estado brasileiro, de suas instituições e políticas públicas, com suas propostas agrupadas e veiculadas nas redes sociais e na grande mídia, com certeza promoverá uma revolução de costumes políticos, turbinando as mudanças já em curso no âmbito de setores tradicionais da produção cultural como educação, justiça e igrejas.
Por que o lulopetismo, depois de treze anos no poder, simplesmente nos traiu com a promessa de uma nova política baseada na ética republicana que expulsaria a velha prática fisiológica dos governos. Vide a cena dantesca da corrupção a luz do dia e de uma retórica mentirosa que quer enganar todos a todo tempo. O que já se provou impossível no mundo contemporâneo por que a marquetagem tem perna curta. Aliás, marqueteiros políticos são uma jabuticaba que só existe no Brasil. Quando não, um ato falho que revela a pobreza de espírito de reduzir a nobre arte da política a mero marketing comercial. Em qualquer campanha eleitoral do mundo, estrategistas são cientistas políticos formuladores de estratégias de argumentação e não propagandistas de efeitos especiais, de trucagens e trocadilhos de superproduções televisivas. E o petismo, aqui entre nós, abusou da crença de que somos todos crédulos idiotas durante todo o tempo. Menosprezando que os cidadãos brasileiros fossem acordar um dia por não quererem mais viver submetidos a uma falsa esperança delirante de que “um outro Brasil é possível”, mesmo que às custas do Brasil real. Pois acordamos decididos a não mais querer um Brasil de promessas vãs, de propaganda eleitoral compulsória, falsos testemunhais de artistas pagos, militantes recrutados a diárias e sanduíches de mortadela, cenotécnicos palanques de showmícios e manipuladas pesquisas de opinião. Preferimos o país real, mesmo que injusto e com uma imensidão de desafios a cumprir. Mas com nossa liberdade garantida. Liberdades civis de nos manifestar, associar, empreender e assumir nossas livres escolhas. Sem a tutela de governantes e seus comissários arrogantes que querem saber mais do que nós mesmos sobre o rumo que tomamos na vida. Repudiamos palavras-de-ordem de asseclas governistas, doutrinações nas escolas de professores facciosos, má gestão de empresas públicas por executivos e conselheiros esquerdistas, cínicos relativistas morais, realistas mais excessivos do que a própria realidade, intelectuais orgânicos chatos de retrógrados chavões doutrinários já desmoralizados em todo mundo. O estelionato eleitoral de 2014 é que foi o verdadeiro golpe! Não as manifestações de 13 de março que pediram justamente o fim dos golpistas eleitorais. Os verdadeiros cidadãos que não compactuam com a imoralidade pública e a corrupção política como fatalidade nacional! A maioria da população brasileira que foi enganada pelo golpe da marquetagem levada a cabo pelos presidiários João Santana e Monica Moura, o Feira e a Xepa da Lava Jato, a mando e soldo de propina desviada de empresas públicas pela cúpula petista! Este, sim, o verdadeiro golpe de publicidade contra a democracia!
Cabe à mídia cívica brasileira reagir e começar a dar a mesma visibilidade a estes agentes de cidadania das ruas que geralmente dá ao cenário apodrecido dos lobbies dos palácios e das casas legislativas. Pois a velha classe política brasileira trata o cidadão como se fosse delinquente igual a ela ou simples débil mental que cai credulamente nas suas esparrelas. Vejam que eloquente exemplo de que a cultura de cidadania no Brasil começa a vencer a cultura de impunidade. Se o leitor pesquisar no Google as dez menções de corrupção no estado do Paraná, por exemplo, verá que a primeira menção é uma notícia do G1 sobre um caso de corrupção na UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – e logo abaixo seguem oito menções de combate à corrupção, entre as quais uma reportagem de Wilson Kirsche da RPC – Rede Paranaense de Comunicação filiada da Rede Globo, mostrando um teste de corrupção com um freezer cheio de picolés de iniciativa do professor André Luis Shiguemoto da mesma Universidade. Um cartaz convida os estudantes a retirarem livremente seus picolés contra um depósito de dois reais por picolé numa caixa ao lado do freezer. Pois numa campanha de 400 picolés retirados, apenas 6 unidades não tiveram seus valores depositados, ou menos de 2% do total. O resultado do teste de confiança passou a instruir um debate entre os estudantes sobre a responsabilidade moral individual pela conduta pública como forma de mudança de nossa prevalente cultura política de impunidade. Você pode acessar também a página da campanha Por um novo jeitinho Brasileiro de cinco jovens estudantes paulistas egressos do Colégio Bandeirantes, Amanda, Cristobal, Gabriel, Pedro e Thomas.Inconformados com a balela do velho jeitinho brasileiro, começaram a colecionar exemplos de cidadãos comuns, a quem chamam de “ídolos éticos”, pois todos têm capacidade de auxiliar na mudança dos costumes sociais com condutas cívicas e moralmente responsáveis no cotidiano da sociedade brasileira. A própria reportagem do teste do freezer de picolés consta como um dos exemplos a serem seguidos pelos jovens do coletivo. E compartilhado nas redes sociais, o vídeo da reportagem do Paraná acabou por ser replicado em âmbito nacional como fecho de ouro do Jornal Nacional do dia 11 de abril. O que nos anima de esperança, mesmo que em meio a esta enxurrada incessante de delinquências do noticiário político nacional, de que seis milhões de cidadãos manifestantes de 13 de março, por mais que os governistas se façam de desentendidos com seus infindáveis golpes de publicidade rasteira, não se deixarão enganar todos e a todo tempo. Pelo menos uma parte considerável dos mesmos que tomam iniciativas cívicas como estas repercutidas nas redes sociais e na mídia profissional. Esta é minha aposta. Oxalá!

Fonte: Época

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