A extinção da Fundação Piratini é luto para a comunicação pública

A comunicação pública é indicador de qualidade das democracias. E hoje é um dia de lamentos sobre a democracia no Rio Grande do Sul, quando o governo engaveta, através do decreto no 54.089, tantas conquistas culturais, artísticas, jornalísticas, comunicacionais e profissionais permitidas nos espaços da Fundação Piratini, à qual pertenciam a TVE e da Rádio FM Cultura.

O governador José Ivo Sartori contribui, decisivamente, para a diminuição da qualidade do Estado e da democracia, na sua sanha por enxugamento financeiro dirigido particularmente a instituições com autonomia e identidade para além da política, como FEE, Fundação Zoobotânica e Fundação Piratini. Enxugamento questionável, quando comparamos os valores expostos pelo movimento em defesa da TVE. Mas esse governo se mostrou impermeável a todas as mobilizações, abaixo-assinados, reuniões e manifestações. E assim deixa seu legado: próximo das cifras e distante do interesse público.

O propalado enxugamento, associado a um conceito ultrapassado denominado Plano de Modernização do Estado, não leva em conta nenhum tipo de investimento para a melhoria das instituições e de seus profissionais. Assim, a extinção da Fundação Piratini atesta, também, a incompetência em lidar com a coisa pública de uma gestão submetida ao capitalismo.

Acabar com esse privilegiado espaço de informação pública e transformá-lo em órgão governamental é facilitar a propaganda no lugar do jornalismo; é abrir espaço para promover a cultura e a educação sob interesses privados; é excluir um espaço diferenciado de ver a sociedade, sua cultura e a sua história e, finalmente, é amplificar a comunicação de governos, geralmente o objetivo único de uma secretaria estadual de comunicação. É emblemático que isto aconteça em um ano eleitoral, quando há especial urgência por informações produzidas com a autonomia que o interesse público requer.

Que o acervo desta importante instância não seja jogado ao lixo, porque ali estão os registros do trabalho diferenciado e inovador que marcou a história da radiodifusão no país. Ali está o trabalho dos seus Conselhos Deliberativos, que tanto lutaram pela autonomia da Fundação independentemente dos governos, e fizeram história. Como homenagem a todos que construíram a Fundação Piratini, citamos Daniel Herz, que lutou incansavelmente pela democratização da comunicação neste país e pelo funcionamento do Conselho da TVE.

Porto Alegre, 30 de maio de 2018.

Fonte: OBCOMP.
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