Comunicação pública fortalecida é instrumento contra fake news

Reflexão foi compartilhada pela Patrícia Roedel, da ABCPública, durante o seminário Reboot 2019

A comunicação pública precisa se fortalecer muito mais neste momento em que todos são comunicadores potenciais e há uma profusão de “fake news”, sem balizamento da fonte. Essa foi uma das principais conclusões da integrante da ABCPública Patricia Roedel, que participou do seminário de comunicação Reboot 2019 como palestrante e debatedora.

Abordando o tema “O desafio de transparência no novo portal da Câmara dos Deputados”, a jornalista, que coordena o processo de mudanças do portal, salientou que a transparência das informações nas fontes primárias e a linguagem simples — pilares da comunicação pública — são formas de mitigar as fake news, já que a fonte primária de informação é utilizada não apenas pelo cidadão comum, mas também pela imprensa e sites analíticos.

Patricia  salientou a importância, no novo portal da Câmara, das ferramentas de participação integradas transversalmente ao conteúdo. Para ela, é uma forma de combater o que, já na década de 60, os teóricos da comunicação chamavam de disfunção narcotizante, que ocorre quando a mera leitura de um excesso de informações e a simples expressão de sua opinião fazem com que o cidadão se sinta partícipe do processo político, sem que na realidade tenha qualquer influência. “Na década de 60, Lazarsfeld e Merton já haviam cunhado essa expressão, quando tudo o que o cidadão tinha eram três jornais, rádio e TV. Imaginem como a profusão atual de informações amplia essa disfunção no que se refere ao debate de leis. Nem estou me referindo ao “idiota da aldeia” aqui. A existência de canais de participação e diálogo no portal da Câmara permite que a opinião do cidadão seja direcionada ao receptor correto, quebrando essa disfunção”, apontou.

A jornalista mostrou as novas funcionalidades do portal e falou sobre como foi o desafio de quebrar tecnicidades para dialogar com o cidadão comum interessado em política, e não apenas com especialistas. O novo portal da Câmara foi reformulado em sua arquitetura, que se tornou mais simples e intuitiva; na linguagem, que foi simplificada e está mais imagética; na adição de vídeos explicativos, glossários e páginas educativas; e na criação de páginas de transparência com dados gráficos. “Porém, o mais importante virá em março, com o lançamento da ficha de tramitação amigável, que vai permitir o acompanhamento fácil dos projetos de lei, de uma forma visual”, explicou.

Sobre o desafio de transparência, ela afirmou: “Alguns deputados se ressentiram do excesso de transparência. Mas é uma mudança de cultura e de costumes. Não acredito que a Presidência ou a alta administração da Casa volte atrás. Estão sintonizados com as demandas da sociedade, que está cobrando muito mais”, acredita.

“A comunicação pública é um direito dos cidadãos assegurado pelo artigo 5º da Constituição, e se contrapõe a interesses de Estado ou particulares. Na dúvida entre o interesse público, estatal ou particular, o público deve prevalecer”, argumentou.

Foto: Genilson Frazão

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