A Escola Nacional de Saúde Pública recebeu, durante as comemorações pelos seus 64 anos, a jornalista, especialista em direitos humanos e mestre em políticas públicas, Bia Barbosa. Ela debateu a comunicação pública em tempos de austeridade e defendeu: “o Brasil precisa de uma mídia minimamente mais plural e diversa que consiga disputar ideias e valores e dar voz à diversidade que existe em nossa sociedade, que é tão silenciada historicamente pelo fato de termos uma comunicação essencialmente privada no país”.
A palestrante, que é coordenadora da Comissão executiva do Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social e integrante do Conselho Consultivo da ENSP, proferiu a palestra Análise de conjuntura: a comunicação pública em tempos de austeridade, cuja moderação ficou sob a responsabilidade do coordenador do Programa Radis, Rogério Lannes.
Introduzindo o tema em debate, Lannes comentou que o movimento da reforma sanitária e a 8 Conferência Nacional de Saúde fizeram mais do que inspirar o Sistema Único de Saúde (SUS). Defenderam a democracia, a participação social, os determinantes sociais e as ações intersetorias como pilares da comunicação para que haja saúde.
“Apesar de tantos anos terem se passado, o campo da saúde coletiva ainda tem dificuldade de enxergar o exercício do direito à comunicação como essencial à garantia do direito à saúde. Assim como muitos comunicadores, infelizmente, ainda enxergam a comunicação como simples acesso ou transmissão de informação”.
Rogério Lannes destacou ainda que a Política de Comunicação da Fiocruz aponta para a essencialidade de os outros terem voz em nossos veículos e ações de comunicação. Segundo ele, esse é um dos principais pressupostos de uma comunicação pública.
Bia iniciou a sua palestra dizendo que é sempre muito revigorante ver o compromisso da instituição, não só da Escola Nacional de Saúde Pública, mas da Fiocruz como um todo, com a agenda da comunicação e da defesa da comunicação como um direito fundamental. “O simples fato dos gestores da ENSP terem pensado numa cadeira em seu Conselho para representar esse debate na sociedade já mostra a importância estratégica que a Escola dá à comunicação”, salientou.
Ela contou ter ficado preocupada com o convite, pois não teria muitas coisas para falar sobre os avanços no campo da comunicação. Mas disse, consternada, que o dia – marcado pelo trágico incêndio no Museu Nacional – era um bom exemplo de como carecemos de uma comunicação pública ou uma comunicação conduzida com base no interesse público.
“O debate sobre austeridade está na origem do que aconteceu no Museu Nacional. Publiquei um post em minhas redes sociais no qual fiz questão de perguntar: Quando é que os meios de comunicação que defenderam tanto essa política de austeridade, que defendem o corte de gastos, que fizeram tanta propaganda e todo o alarde em torno dessa agenda econômica terão a coerência de relacionar esse debate com o que está acontecendo hoje? Porque agora são todos grandes defensores da UFRJ, do Museu…. Concretamente, os meios de comunicação são parte desse processo. Quando só enxergamos a comunicação como acesso à informação, não enxergamos os meios de comunicação como atores políticos desse processo, e não entendemos o papel estratégico que qualquer sistema midiático tem na construção dos rumos de um país e de toda sociedade moderna, falhamos na nossa análise. Esse é mais um exemplo das consequências práticas do que vivemos, de como é não ter uma comunicação plural e diversa. Sobretudo, de como é ter uma concentração tão histórica como é a da comunicação privada comercial com fins lucrativos aqui no Brasil”.
Segundo ela, vale ressaltar que o ocorrido no Museu Nacional não é consequência apenas de quem deixou de investir ou cortou verbas. É também de quem defendeu esse projeto,o propagou e ajudou a formar a opinião pública, de quem informou o cidadão com base nessas essas ideias e nesse modelo de estado. “Esse é somente mais um caso de como poderíamos estar em outra situação se tivéssemos uma mídia minimamente mais plural e diversa e se tivéssemos um sistema público de comunicação que conseguisse disputar ideias e valores, e dar voz à diversidade que existe na nossa sociedade, que é historicamente silenciada pelo fato de termos uma comunicação essencialmente privada no Brasil”, lamentou Bia.