Programa Avançado em Comunicação Pública 2021 é encerrado com lançamento de e-book produzido pelos alunos

O Programa Avançando em Comunicação Pública 2021, uma parceria da ABCPública com a Aberje, foi encerrado oficialmente no último sábado (23). Foram 60 horas-aula distribuídas em 19 encontros, realizados de forma on-line e ao vivo, com professores com grande experiência e conhecimento aplicado na comunicação pública.

Fechando a segunda edição do programa “com chave de ouro”, houve o lançamento do e-book Comunicação Pública na Prática: Depoimentos. A obra, que conta com depoimentos de 25 profissionais de comunicação sobre as práticas de seus trabalhos, foi organizada pelo diretor de relações acadêmicas da ABCPública e um dos curadores do curso, Jorge Duarte. As entrevistas contidas no e-book foram produzidas pelos próprios alunos do Programa Avançando em Comunicação Pública 2021. “É uma alegria estar participando disso. É um trabalho de todos nós”, disse a presidente da ABCPública, Cláudia Lemos, durante o evento que já tem uma 3ª edição confirmada.

Solicite o e-book em: contato@abcpublica.org.br.

Neste momento, o e-book está disponível apenas para associados da ABCPública e da Aberje. Saiba como se associar aqui.

Seminários de Comunicação Pública

Como parte do encerramento do curso, foram realizados nos últimos encontros dois Seminários de Comunicação Pública, preparados e conduzidos pelos próprios alunos do programa, e que abriram espaço para debate da turma: “Gestão, estratégia e conteúdo em redes sociais” e “Comunicação Pública na era da desinformação e das fake news”, que encerrou o programa.  

O seminário “Comunicação Pública na era da da desinformação e das fake news” foi apresentado pelos profissionais Taís Seibt, Ana Marusia Pinheiro Lima e Wladimir Gramacho. Confira abaixo os destaques das apresentações: 

Taís Seibt

Taís Seibt é jornalista, professora, e doutora em Comunicação pela UFRGS, com pesquisa sobre a prática de fact-checking no Brasil.  “A minha atuação nos últimos anos com a área de fact-checking e o trabalho com a Lei de acesso à informação tem sido muito próxima da comunicação pública porque sem os dados públicos a checagem de informação é muitas vezes inviabilizada.”, afirmou. 

A jornalista explicou em sua apresentação o funcionamento e papel das agências de checagem na sociedade. “A verificação é um elemento do jornalismo e a prática de fact-checking está em crescimento e intensifica esse elemento. Com esse tipo de jornalismo, vem a exigência do seguimento de 5 princípios: transparência em relação à metodologia de trabalho; transparência em relação à escolha das fontes; transparência em relação ao financiamento; política pública de correções; e apartidarismo”, comentou. 

Taís Seibt também é colaboradora da Fiquem Sabendo, uma agência de dados especializada em Lei de Acesso à Informação (LAI), e pontuou alguns acontecimentos ocorridos no Brasil no ano de 2008 que, além de emblemáticos, levaram à exploração do fact-checking devido às inúmeras fake news compartilhadas nas redes e plataformas: os desdobramentos do assassinato da vereadora Marielle Franco, a greve dos caminhoneiros e as eleições. 

Sobre o papel do poder público no combate à desinformação, a especialista apresentou algumas sugestões deixadas pelos autores Wardle e Derakhshan: criar políticas para mapear a desinformação; regulamentar a publicidade nas redes digitais; apoiar organizações de mídias locais; implementar políticas de alfabetização digital e jornalística; e atuar com responsabilidade e transparência em seus discursos. “Só é possível verificar o que é verificável. Saber como as agências de fact-checking funcionam tende a ajudar essa construção a funcionar melhor. Precisamos muito da atuação conjunta com comunicadores públicos, que são peça-chave nesse trabalho”, concluiu Taís Seibt.

Ana Marusia Lima

Ana Marusia é doutora em ciência política e analista legislativa da Câmara dos Deputados e compartilhou com os alunos da turma as estratégias e experiência da Câmara no combate às fake news. “O Projeto Comprove é uma agência de checagem da Câmara dos Deputados onde atendemos as demandas dos cidadãos pelo WhastApp. O canal é destinado exclusivamente para notícias que tenham relações com a Casa ou com os deputados em exercício de mandato”, explicou. 

Segundo a profissional, a Câmara dos Deputados foi o primeiro parlamento no Brasil a ter uma agência própria de checagem de notícias, que trabalha com duas frentes de operação: atendimento e triagem, realizado pela equipe da Central de Atendimento da Casa; e apuração de notícias, feita pela assessoria de imprensa da Câmara. “Uma vez a assessoria tendo feito a checagem, a demanda é devolvida para a Central de Atendimento que entra em contato com o cidadão e dá a resposta redigida pela equipe de apuração”, contou.

Ana Marusia esclareceu que além do atendimento personalizado ao cidadão, existe o site do projeto com as checagens, o que visa dar transparência e publicidade à agência. “O problema da desinformação é muito grave. Além dos impactos individuais e coletivos, cria um clima muito ruim de desconfiança e ter uma agência de checagem dentro de um parlamento é uma tentativa de conter o avanço e estrago causado pela desinformação”, disse. 

A profissional também mencionou que o Comprove é mais do que um agência de checagem, um instrumento de escuta do cidadão. “Sentimos a necessidade de fazer esse trabalho para que, com o acesso privilegiado dos assessores de imprensa, possamos oferecer ao cidadão uma resposta mais completa. E sabemos que se perdemos a credibilidade o canal morre e, por isso, damos prioridade à qualidade da informação“, afirmou Ana Marusia.

Wladimir Gramacho

Wladimir Gramacho é doutor em Ciência Política e professor adjunto da Faculdade de Comunicação da (UnB), e abordou em sua apresentação as estratégias para a correção de desinformação e os riscos das fake news para a democracia. “A desinformação é algo muito delicado e nós, da área de comunicação,  ainda não encontramos uma resposta definitiva para combatê-la”, afirmou.

O profissional utilizou estudos dos autores canadenses McKay e Chris Tenove para citar os riscos da desinformação para a democracia. “Esses autores dizem que os riscos, sobretudo de influência no resultado eleitoral, tendem a ser baixos porque as nossas preferências eleitores tendem a ser estáveis. Além disso, a gente tende a consumir fake news que concordam com nossas opiniões e preferências”, disse. 

Ainda segundo os autores apresentados por Wladimir Gramacho, a desinformação impõe três riscos à democracia deliberativa: a capacidade de conhecer;  de respeitar o outro; e de participar de modo igualitário. “Os autores que estou citando dão algumas soluções regulatórias para esses riscos causados pela desinformação:  a filtragem, curadoria, supervisão e mútua responsabilização”, explicou o profissional. 

Para Wladimir Gramacho, é sempre importante lembrar que a democracia também tem recursos para combater a desinformação, como a liberdade e fóruns de discussão. “Essas são características democráticas que são muito promissoras no enfrentamento à desinformação. Acho que estamos progredindo na produção de soluções cada vez mais satisfatórias para enfrentar isso”, defendeu. 

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